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Estações do ano e hábitos alimentares

O verão inaugura um período marcado por temperaturas mais altas, dias mais longos que as noites, e chuvas frequentes em quase todo o Brasil.

Essas mudanças no clima podem também significar mudanças nos hábitos alimentares. A tendência observada é que no outono e no inverno haja maior consumo de calorias, ao contrário do que ocorre no verão.

Um exemplo dessa dinâmica está em um estudo publicado em 1947, que mostrou como a alimentação de soldados sofreu grande variação comparando dois extremos climáticos: vivendo no deserto e no Ártico. Quanto maior a temperatura local, menor foi a ingestão espontânea de calorias.

A sazonalidade também está associada à variedade do que é consumido, e não apenas à quantidade. Conforme mudam as estações do ano, observa-se que alguns grupos alimentares são mais consumidos do que outros.

Uma explicação para essa diferença está nos fatores ambientais, que influenciam a produção agrícola, o ciclo reprodutivo de animais e, consequentemente, a disponibilidade de alimentos ao longo do ano – por isso, fala-se em alimentos “da época”. Esse impacto é maior em países em desenvolvimento e em comunidades rurais.

Outra explicação está nos fatores culturais, como os períodos de festividades (Natal e Ano Novo, por exemplo), quando alguns alimentos ganham mais protagonismo no consumo, e a mudança de hábitos durante as férias escolares, que pode interferir na alimentação.

Uma análise de diversos estudos encontrou variações sazonais no consumo dos seguintes grupos de alimentos: frutas, vegetais, ovos, carnes, cereais e bebidas alcoólicas. No período de primavera-verão, apontou-se maior consumo de vegetais, ovos, bebidas alcoólicas, carnes e cereais. No período de outono-inverno, houve maior consumo de frutas e cereais.

No caso do Brasil, pesquisas mostram pouca variação e pouca diversidade no consumo de alimentos, apesar da sazonalidade. A ingestão de frutas entre os brasileiros é baixa e pouco variada, sendo laranja, banana e maçã as frutas mais consumidas. Essa monotonia na dieta é um contraste frente à grande variedade de alimentos regionais que existe no país.

Os alimentos regionais podem ser definidos como “aqueles de fácil acesso, baixo custo e alto valor nutricional, são produzidos, plantados, colhidos, fabricados localmente com referência cultural, sempre associados com uma alimentação saudável, por promoverem a segurança alimentar e nutricional da população, e por carregarem identidade e hábitos alimentares locais.” (SILVA et al., 2022)

Alimentação e saúde no verão
“Tomando sol”, de Petrona Vieira. Imagem: Wikimedia Commons

No verão, os dias mais quentes e com mais exposição ao sol provocam maior perda de líquidos e de sais minerais por meio da transpiração. Assim, há maior risco de desidratação, especialmente para crianças e idosos.

As temperaturas mais altas também aumentam o risco de intoxicação alimentar, pois o ambiente mais quente e úmido favorece o crescimento de fungos e bactérias.

Assim, é comum que as orientações sobre alimentação nesta época estejam relacionadas ao consumo de alimentos mais leves e refrescantes, além de reforçar a importância de se manter bem hidratado e de ter cuidados com a higiene e a conservação de alimentos.

Nos climas mais quentes, pode ocorrer o efeito de sentir menos fome, devido à diminuição do metabolismo basal – quantidade de energia necessária para manter as funções vitais. Para se adaptar frente a isso e não ficar longos períodos sem se alimentar, também é recomendado o consumo de alimentos de fácil digestão: verduras, frutas, legumes e carnes magras. As frutas, verduras e legumes, em especial, são importantes fontes de vitaminas, minerais, fibras e água.

O período de safra da melancia é justamente em janeiro, durante o verão. A água representa cerca de 90% do seu peso. Imagem: Freestock

Uma dica para variar a ingestão de líquidos é o consumo de chás, sucos naturais sem açúcar e água de coco. Também é possível adicionar pedaços de gengibre, laranja, limão, hortelã e outras frutas para aromatizar a água, conforme indica a professora da PUC-RS Rochele Rodrigues.

Para prevenir contaminações, é importante garantir que os alimentos estejam devidamente refrigerados, especialmente quando forem servidos em áreas externas. Em ambientes de praia e piscina, vale sempre prestar atenção nas condições de armazenamento e higiene do local, e no cheiro e no sabor dos alimentos.

Encher bem o cooler com gelo ajuda a manter os alimentos perecíveis refrigerados e seguros para o consumo.
Imagens: Brasil com S

Por fim, falando em sazonalidade, alimentos regionais e que estão no período de safra são mais baratos, de maior qualidade e mais saborosos. Por isso, uma dica para economizar em qualquer estação do ano é buscar pelos alimentos regionais “da época”. Em São Paulo, uma fonte de consulta desses alimentos é a tabela de sazonalidade da CEAGESP (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo).

A tabela apresenta uma lista de alimentos regionais brasileiros por regiões:

RegiõesAlimentos regionais
NorteFrutas: abricó, abiu, açaí, araçá, bacaba, bacuri, banana-pacova, biribá, buriti, cajarana, camu-camu, castanha-do-brasil/castanha-do-pará/castanha-da-amazônia, cubiu, cupuaçu, cupuí, cutite, guaraná, inajá, ingá, jambo, mangaba, murici, piquiá, pupunha, sapato-do-solimões, sorva, taperebá, tucumã, umari, uxi; Legumes e Verduras: bertalha, espinafre-d’água, jambu, maxixe-do-reino, quiabo-de-metro, chicória-do-pará, pimenta-do-reino; Leguminosas: feijão regional (feijão carioca/carioquinha/mulatinho); Tubérculos, raízes e cereais: ariá, inhame-roxo, jacatupé; Farinhas: farinha de carimã, farinha de piracuí, farinha de uarini, maniçoba, tucupi.
NordesteFrutas: acerola, banana-nanica, banana-da-terra, cacau, cajá, cajarana, caju, ciriguela, coco, dendê, fruta-pão, graviola, juá, mamão, maracujá, pitomba, sapoti, tamarindo, umbu; Legumes e Verduras: abóbora, agrião, jurubeba, major-gomes, maxixe, palma, quiabo, vinagreira, cebolinha, coentro; Leguminosas: algaroba, feijão, feijão-de-corda, feijão-verde, guandu; Tubérculos, raízes e cereais: araruta, gergelim, inhame, junça, mandioca, sorgo; Farinhas: Farinhade tapioca.
Centro-oesteFrutas: abacaxi-do-cerrado, araticum, baru, cagaita, cajuí, coco-babão, coco-cabeçudo, coco-indaiá, coroa-de-frade, curriola, guabiroba, guapeva, jaracatiá, jatobá, jenipapo, lobeira, macaúba, mama-cadela, maracujá, marmelada-de-cachorro, pequi, pera-do-cerrado, pitanga, xixá; Legumes e Verduras: abóbora, almeirão-de-árvore, caruru, couve, croá, dente-de-leão, fisalis, gueroba, serralha, açafrão-da-terra, cheiro-verde, cebola; Tubérculos, raízes e cereais: mangarito, mandioca, milho-verde.
SudesteFrutas: abacate, brejaúva, caqui, carambola, goiaba, jabuticaba, jaca, jambolão, laranja, manga, pinha, sapucaia, sapoti; Legumes e Verduras: abobrinha, agrião, berinjela, beldroega, capiçoba, capuchinha, chuchu, couve, espinafre, jiló, mostarda-de-folha, ora-pro-nóbis, pimentão, quiabo, repolho, rúcula, taioba, vagem, coentro, salsa; Leguminosas: feijão-branco, grão-de-bico, orelha-de-padre; Tubérculos, raízes e cereais: mandioca, mandioquinha-salsa, milho, taro.
SulFrutas: amora,banana, feijão, figo, maçã, morango, nectarina, pêssego, pinhão, tangerina/bergamota, uva; Legumes e Verduras: almeirão, azedinha, beterraba, broto-de-bambu, crem, gila, muricato, ora-pro-nóbis sem espinho, radite, repolho, tomate, tomate-de-árvore, canela, cominho, cravo; Leguminosas: lentilha; Tubérculos, raízes e cereais: batata-doce, batata, milho.
Fonte: SILVA et al., 2022

Abaixo, apresentamos duas receitas refrescantes para os períodos quentes:

 
 
 
 
 
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Segue o material de referência

André AINF. Sazonalidade e Alimentação – Influência da Sazonalidade nos Hábitos Alimentares [dissertação]. Porto: Faculdade de Medicina da Universidade do Porto; 2014. https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/72797/2/29032.pdf

Costa JC, Canella DS, Martins APB, Levy RB, Andrade GC, Louzada ML da C. Consumo de frutas e associação com a ingestão de alimentos ultraprocessados no Brasil em 2008-2009. Ciênc saúde coletiva [Internet]. 2021;26(4):1233-44. https://doi.org/10.1590/1413-81232021264.07712019

FoodSafety.gov. Keep Food “Cool for the Summer” to Avoid Foodborne Illness. https://www.foodsafety.gov/blog/keep-food-cool-summer-avoid-foodborne-illness

HCor – Hospital do Coração. Nutricionista do HCor dá dicas para uma alimentação saudável durante o verão. https://www.hcor.com.br/imprensa/noticias/nutricionista-do-hcor-da-dicas-para-uma-alimentacao-saudavel-durante-o-verao/

INMET – Instituto Nacional de Meteorologia. Verão começa nesta semana no Brasil; Confira a previsão. 19 fev 2022. https://portal.inmet.gov.br/noticias/ver%C3%A3o-come%C3%A7a-nesta-semana-e-d%C3%A1-in%C3%ADcio-ao-plantio-das-principais-culturas-de-ver%C3%A3o

Johnson RE, Kark RM. Environment and Food Intake in Man. Science. 1947 Apr 11;105(2728):378-9. https://doi.org/10.1126/science.105.2728.378

PUC-RS – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Alimentação saudável: confira como ter uma dieta balanceada no verão. 28 dez 2022. https://www.pucrs.br/blog/5-dicas-alimentacao-saudavel-no-verao/

Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo – Coordenadoria de Vigilância em Saúde. Efeitos do Clima na Saúde: calor. 2021. https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/folder_calor_08_2021.pdf

Silva MAL, Louzada ML, Levy RB. Disponibilidade domiciliar de alimentos regionais no Brasil: distribuição e evolução 2002-2018. Segur. Aliment. Nutr. [Internet]. 22 de julho de 2022;29(00):e022007. https://doi.org/10.20396/san.v29i00.8668716

Stelmach-Mardas M, Kleiser C, Uzhova I, Peñalvo JL, La Torre G, Palys W, Lojko D, Nimptsch K, Suwalska A, Linseisen J, Saulle R, Colamesta V, Boeing H. Seasonality of food groups and total energy intake: a systematic review and meta-analysis. Eur J Clin Nutr. 2016 Jun;70(6):700-8. https://www.nature.com/articles/ejcn2015224

Tanaka N, Okuda T, Shinohara H, Yamasaki RS, Hirano N, Kang J, Ogawa M, Nishi NN. Relationship between Seasonal Changes in Food Intake and Energy Metabolism, Physical Activity, and Body Composition in Young Japanese Women. Nutrients. 2022 Jan 24;14(3):506. https://doi.org/10.3390/nu14030506