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Vegetarianismo na infância

Posicionamentos e recomendações sobre dietas vegetarianas para crianças

Duas datas comemorativas do mês de outubro foram o Dia Mundial do Vegetarianismo (dia 1º) e, no Brasil, o Dia das Crianças (dia 12). Pensando nesses eventos, decidimos abordar um tema que é intersecção dos dois: o vegetarianismo na infância.

É recomendado que bebês e crianças sejam vegetarianos? Existe algum consenso sobre o tema? Quais são as orientações sobre essa prática na infância?

Estudos que avaliam a relação entre a dieta vegetariana e o desenvolvimento infantil têm apresentado resultados conflituosos. As evidências limitadas fazem com que existam, no cenário internacional, diferentes recomendações.

Nos Estados Unidos, um posicionamento bastante influente é o da Academy of Nutrition and Dietetics, a qual considera que as dietas vegetarianas apropriadamente planejadas podem ser seguidas em todas as etapas do ciclo de vida, incluindo gestação, lactação e infância. Na Argentina, a Sociedade de Pediatria e a Associação de Dietistas e Nutricionistas Dietistas seguem na mesma linha.

A Sociedade Canadense de Pediatria defende que uma alimentação vegetariana pode ser nutricionalmente adequada na infância, desde que inclua laticínios e ovos. Também no sentido de evitar dietas vegetarianas mais restritivas, diretrizes da Alemanha, Bélgica e Espanha não recomendam a prática do veganismo na infância pelo risco de deficiência de nutrientes.

O veganismo é uma das classificações que existem dentro do vegetarianismo. O ponto em comum é que todas as dietas vegetarianas excluem o consumo de carne.

Tipos de dietas vegetarianas:

  • ovolactovegetariana: inclui ovos, leite e laticínios;
  • lactovegetariana: inclui leite e laticínios;
  • ovovegetariana: inclui ovos;
  • vegetariana estrita: não inclui nenhum produto de origem animal; e
  • vegana: além de seguir a dieta vegetariana estrita, o indivíduo não faz uso de nenhum produto não alimentício de origem animal ou que gere exploração e/ou sofrimento animal.
Recomendações brasileiras

No Brasil, o “Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 Anos” traz diversas orientações sobre a alimentação de crianças vegetarianas.

Em primeiro lugar, reforça a recomendação atual que vale para todas as crianças, vegetarianas ou não: que sejam amamentadas exclusivamente até os 6 meses de idade e que o aleitamento continue até os 2 anos, pelo menos.

A partir do primeiro semestre de vida, o Guia cita alimentos que, junto ao leite materno, podem ser fonte de cálcio para as crianças vegetarianas: espinafre, couve, bertalha, brócolis, alho-poró, tofu e amêndoa.

Para aumentar a absorção de ferro dos alimentos de origem vegetal, recomenda o consumo de frutas ricas em vitamina C após a refeição.

Para ajudar a pensar nas refeições do dia, o Guia orienta:

“No almoço e jantar, diariamente, devem estar presentes:

  • 1 alimento do grupo dos cereais ou do grupo dos tubérculos e raízes;
  • 1 alimento do grupo dos feijões (leguminosas);
  • 2 ou mais alimentos do grupo dos legumes e verduras, sendo 1 vegetal folhoso verde-escuro e 1 legume colorido; e
  • 1 alimento do grupo das frutas.”
Orientação para montar um prato vegetariano para crianças. Fonte: Sociedade Vegetariana Brasileira.

Sobre os leites vegetais ultraprocessados (de soja, coco, amêndoas, arroz, aveia, entre outros), o Guia coloca que, durante os seis primeiros anos de vida, eles não servem como substitutos do leite materno. Após esse período, podem ser incluídos na alimentação.

O documento lembra que, para que uma criança pratique o vegetarianismo, é necessária “atenção redobrada à escolha dos alimentos e à sua combinação” na dinâmica da família, garantindo à criança quantidades suficientes de nutrientes para o seu crescimento e desenvolvimento.

Ressalta, também, que todas as crianças devem ser acompanhadas por profissionais de saúde, que poderão oferecer orientações sobre alimentação e suplementação com vitaminas e minerais. Uma preocupação em especial é com a vitamina B12, que não está presente nos alimentos de origem vegetal.

Vegetarianismo, gravidez e leite materno

Outro tópico relacionado que pode levantar dúvidas é o do vegetarianismo durante a gestação, pois ter uma alimentação adequada e saudável é importante para a saúde de quem está gestando e também do bebê em desenvolvimento.

Nesse período, a recomendação geral é se alimentar de forma variada e balanceada para fornecer nutrientes suficientes para ambos. No caso de pessoas vegetarianas que estejam grávidas, vale um cuidado a mais para monitorar a ingestão de ferro, vitamina B12, vitamina D, cálcio e iodo.

Pensando na amamentação, entende-se que as mães vegetarianas, ou mesmo veganas, são capazes de produzir leite materno com o mesmo valor nutricional de pessoas onívoras, desde que sigam uma dieta bem planejada e com a suplementação necessária.

Confira o conteúdo publicado na nossa página do Instagram sobre crianças e habilidades culinárias:

Segue o material de referência

Elliott LJ, Keown-Stoneman CDG, Birken CS, Jenkins DJA, Borkhoff CM, Maguire JL. Vegetarian Diet, Growth, and Nutrition in Early Childhood: A Longitudinal Cohort Study. Pediatrics June 2022;149(6). https://doi.org/10.1542/peds.2021-052598

Vesanto M, Winston C, Susan L. Position of the Academy of Nutrition and Dietetics: Vegetarian Diets. Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics. 2016;116(12):1970-1980. https://doi.org/10.1016/j.jand.2016.09.025.

Brasil. Ministério da Saúde. Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 Anos. Brasília: Ministério da Saúde; 2019.

NHS – UK. Vegetarian or vegan and pregnant (revisado em 17 de junho de 2022). https://www.nhs.uk/pregnancy/keeping-well/vegetarian-or-vegan-and-pregnant/

Karcz K, Królak-Olejnik B. Vegan or vegetarian diet and breast milk composition – a systematic review. Crit Rev Food Sci Nutr. 2021;61(7):1081-1098. doi:10.1080/10408398.2020.1753650