Alimentos orgânicos e da agricultura familiar ganharam espaço nas aulas do Laboratório de PTCAN. A primeira compra foi realizada em maio de 2023, dando início ao projeto de incluir fornecedores agroecológicos no abastecimento do Laboratório.
As idealizadoras do projeto são as nutricionistas Bruna Arid e Weruska Davi Barrios, pesquisadoras do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública USP e membros da Equipe Ciência, Cultura e Comida. São lideradas pela Prof. Dra. Betzabeth Slater, docente responsável pelo projeto.
“A ligação entre o campo e a mesa é um papel importante do profissional nutricionista e poder praticar isso ainda na graduação é um estímulo e tanto para os futuros colegas. Além disso, é preciso olhar para a cadeia agroalimentar e fomentar a sustentabilidade”, diz Weruska.
Bruna explica que a agricultura familiar e orgânica já era um tema valorizado nas atividades do Laboratório, mas nunca havia sido implementado nas compras.
Agora, em todas as aulas da graduação, a maioria das verduras, legumes e frutas é orgânica. Os próximos passos serão incluir estocáveis, como farinhas e azeites orgânicos, e ir facilitando cada vez mais o processo de aquisição, que envolve encontrar os possíveis fornecedores e adaptar as receitas com base na oferta, incluindo o uso de PANC (Plantas Alimentícias Não Convencionais).
“Estamos trabalhando o planejamento de cardápio sustentável, que olha primeiramente para o campo, a sazonalidade, a agricultura familiar, o que ela pode nos fornecer e, a partir disso, construir o cardápio. Outra etapa importante neste processo é sensibilizar os fornecedores para essa relação comercial e logística”, explica Weruska.
Assim, organizar as compras é uma parte importante do projeto, porém não a única. O trabalho envolve dialogar com os fornecedores e os estudantes sobre a importância de introduzir esses alimentos na formação acadêmica em Nutrição.
“Minha ideia é estimular os alunos, tanto na sala de aula como na vida pessoal, ao uso de alimentos agroecológicos, pensando em todos os aspectos positivos envolvidos”, diz Bruna.
Conforme descreve o Guia Alimentar para a População Brasileira, a produção dos alimentos orgânicos e de base agroecológica promove o uso sustentável dos recursos naturais, é livre de contaminantes e protege a biodiversidade. No aspecto social, é um sistema produtivo que incentiva a desconcentração das terras produtivas, a criação de trabalho e permanência no campo, e a valorização de saberes e formas de produção tradicionais.
No contato com os alunos, Bruna compartilhou sobre o processo das compras e de escolha das receitas, para que saibam como implementar isso na prática profissional, orientando seus futuros pacientes ou clientes. Ela lembra que realizar compras públicas de alimentos é uma atribuição dos nutricionistas que, muitas vezes, fica esquecida. Outra habilidade que podem desenvolver é a adaptação de receitas para os alimentos da época e locais, um modo mais sustentável de comprar e consumir.
O intuito é que as experiências no Laboratório de PTCAN possam ajudar outras unidades de alimentação a comprarem de agricultores familiares, dando origem a instrumentos facilitadores. Duas parcerias importantes para o projeto são as hortas da FMUSP (Faculdade de Medicina da USP), para fornecimento de alimentos e visita dos alunos, e o envolvimento com a nossa equipe do Instagram (@jabuticabafsp) para o teste de receitas.
Segue o material de referência
Brasil. Ministério da Saúde. Guia Alimentar para a População Brasileira. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2014.
Texto: Helena Mega, com colaboração de Bruna Arid e Weruska Davi Barrios