Categorias
Alimentação Blog cultura Receitas

Canjica x Mungunzá

Mês de junho, mês de receitas com milho! E a vítima cultural de hoje é ela: a canjica… ou mungunzá? 

A preparação tão comum nas comemorações juninas é feita majoritariamente com milho branco, leite de vaca ou de coco, leite condensado e canela. Por ser um alimento que pode ser consumido quente ou frio, combina muito e marca forte presença no período de inverno onde é comemorado o São João. 

Segundo o Atlas Linguístico do Brasil feito em 2009, em um mapa feito por Vanessa Ylza, a territorialidade tem forte influência no nome dado ao prato. Para regiões norte e nordeste, por exemplo,  a palavra mungunzá é amplamente utilizada. Em contrapartida, nas regiões sul e sudeste o chamam de canjica. 

E como todo bom alimento típico brasileiro houveram diversas contribuições para transformá-lo na forma que consumimos hoje. Entre as suspeitas estão uma origem asiática, outra sul americana e mais uma, africana, tanto na construção do prato, quanto na raiz etimológica da palavra canjica. 

Para a contribuição asiática, consideram-se as relações comerciais entre Portugal e Índia que envolveram a compra de diversas especiarias como o cravo e canela presentes na preparação. Já para a origem africana, Francisco Alves sugere que a palavra vem do quimbundo “Kandjica”. Dentre todas as opções disponíveis até hoje, a origem africana é a mais aceita entre os pesquisadores do gênero. 

Em conversa boca a boca com alunos, considerando a localização da universidade de São Paulo, o termo mais adotado entre eles segue sendo canjica, caracterizada pelo alimento que utiliza o grão de milho branco. Porém, pode haver divergências de opiniões ao encontrarmos alunos de origem nortista e nordestina, além de imigrantes que foram socializados com outras palavras como mingau de milho ou curau. Mesmo  em regiões diferentes, cada palavra pode significar, também, itens diferentes. 

Dessa forma, é importante considerar como a língua portuguesa é diversa e mutável, pertencente a um país extenso e que foi criada em conjunto com outras línguas para ser o que é hoje. É verdade que com a existência de diversas palavras para o mesmo alimento haja confusão entre turistas e migrantes para encontrar e consumir o produto, porém, é uma prova de como o Brasil é um país grande e diverso culturalmente, espaço abrangente para estudos lexicais.

E você, vai fazer canjica ou mungunzá? Independente do nome, segue minha própria receita desse doce delicioso pro nosso sexto mês do ano:

500 g de milho branco

1 litro de leite

50g de coco ralado

1 lata de leite condensado

canela a gosto

Etapas:

  1. Deixe o milho de molho de um dia para o outro.
  2. Cozinhe na panela de pressão com 2 litros de água por, aproximadamente, de 30 a 40 minutos.
  3. Já com o milho cozido acrescente o leite, o leite condensado e o coco.
  4. Deixe ferver até engrossar e cuidado para não grudar.
  5. Se escolheu usar a canela, polvilhe sobre o doce já pronto.
  6. Aproveite.

Referências:

MOTA, Jacyra Andrade et al. Projeto Atlas Linguístico do Brasil. Quarteto Editora. UFBA, Campus Universitário de Ondina, 2015. 

ALVES, Francisco. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, 1937.

ALVES, José Francisco. O enigma da canjica. Universidade Federal de Sergipe, 2011. Disponível em: https://www.ufs.br/conteudo/3139-o-enigma-da-canjica