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Dia do trabalho: entregadores de aplicativo x alimentação

Em um mundo onde a alimentação chega até nós de forma fácil e eficiente através dos aplicativos, como fica a alimentação dos profissionais responsáveis por saciar a sua fome? Neste Dia do Trabalho, vamos refletir sobre essa parcela social tão importante

Por: Gabrielly Lima

No Dia do Trabalho é comum parabenizarmos profissões renomadas da alimentação como nutricionistas e chefs de cozinha, porém é importante lembrar de um grupo que sempre esteve aqui pela sociedade: os motoboys.

Diversas vezes nos deparamos com reportagens que mostram os motoboys em situação de vulnerabilidade, vítimas de ofensas e de crimes como o racismo praticado recentemente no Rio de Janeiro, mesmo assim, se observarmos no campo da alimentação essa classe trabalhadora também conta com a desumanização de seus direitos básicos. Ao serem questionados, eles afirmam trabalhar de 10 a 12 horas, muitas vezes sem intervalos para comer e quando conseguem só possuem tempo para um pequeno “belisco” em ultraprocessados. 

De acordo com o SINDMOTO (Sindicato dos Mensageiros, Motociclistas, Ciclistas e Mototaxistas do Estado de São Paulo) o estado conta com aproximadamente 650 mil motociclistas, sendo 320 mil apenas na capital. Em 2021 a estimativa de entregadores cadastrados no aplicativo IFOOD era de 200 mil com uma média de trabalho de 26 horas/mês, este último dado que pelos próprios relatos e vivências se mostra infundado.

Em entrevista feita com alguns entregadores pelo UOL em 2021, eles relatam a dificuldade de conciliar o tempo de entrega e corrida do restaurante até o cliente com o tempo que seria destinado a alimentação, alguns dizem conseguir almoçar às vezes quando o movimento está mas calmo, porém a noite isso se torna impossível. 

“[…] Agora, jantar? Só Deus sabe quando o entregador vai parar à noite para comer”, relata um dos entrevistados.

Ademais, é interessante também observar o número limitado de estabelecimentos que oferecem quaisquer tipos de refeições ou até mesmo água para seus funcionários, muitas vezes terceirizados, que passam horas e horas indo e voltando de entregas para levar o mínimo de dignidade para suas casas ao final do mês. Todos esses dados e tratamentos afirmam ainda mais como a população enxerga esses trabalhadores com um estigma social muito conhecido para pessoas pobres e em sua maioria, negras. Não é incomum encontrar notícias sobre casos de discriminação e abuso de poder para com essas pessoas, então como esperar que haja um debate mais sério sobre a postura de empresas e contratantes a fim de melhorar o acesso à alimentação durante o horário de trabalho? 

Dessa maneira, podemos refletir sobre esse posicionamento social, quase estrutural e se possível, passar a consumir de estabelecimentos que visem o bem estar de seus funcionários desse ramo, assim como tornar o horário de trabalho do motoboy menos desagradável dando boa noite, oferecendo água e principalmente não obrigando o entregador a subir escadas. Sendo assim, para esse dia do trabalho é importante relembrar que existem papéis a serem desempenhados socialmente e cada tarefa torna-se imprescindível para o bom funcionamento da cidade, cabe a nós como um todo incentivar e cobrar melhores condições de vida para aqueles que precisam, nesse momento, submeter-se à trabalhos mais cansativos física e mentalmente.

Referências

MARTINS, Leonardo. CRUZ, Maria Tereza. Almoçar é raridade. Motoboys cruzam a cidade para entregar refeições, mas sem garantia da própria saúde. UOL Notícias, 2021. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/reportagens-especiais/desigualdade-na-pandemia—na-rua-e-com-fome/#cover 

PORTES, Alice. Mulher é acusada de lesão corporal e injúria em São Conrado: ‘Como se eu fosse escravo’, diz entregador atingido nas costas por coleira. G1, 2023. Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2023/04/10/mulher-e-acusada-de-lesao-corporal-e-injuria-em-sao-conrado-como-se-eu-fosse-escravo-diz-entregador-atingido-nas-costas-por-coleira.ghtml