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Comensalidade e catolicismo: a influência religiosa para o consumo de peixe na Semana Santa

Por que consumimos peixe na Semana Santa? Qual a importância desse costume? Entenda um pouco mais sobre essa tradição que prevalece até hoje

Por: Gabrielly Lima

É de conhecimento geral que a religião é um grande determinante das formas de alimentação para o Brasil e o mundo. O catolicismo celebra, em abril, um de seus grandes eventos: a Páscoa. E para entender um pouco mais sobre o processo das tradições alimentares presentes nesse período é preciso aprofundar a visão para além da escolha do alimento. 

De forma geral, o período de 40 dias que antecede a páscoa é denominado Quaresma. Nesse período, os fiéis jejuam e realizam obras de caridade, uma vez que a ressurreição de Jesus é motivo de renovação. Porém, com o passar dos anos em função da urbanização e novos modelos de vida o período de jejum passou a ser menor e diferente em cada família praticante. Ademais, o processo de uma semana completa sem carnes vermelhas nem sempre acontece, mesmo assim a Sexta-feira Santa ainda possui grande força entre os brasileiros praticantes.

Não é difícil deparar-se com aumentos absurdos de carne de peixe durante essa época, sendo o mais consumido pelos compradores o bacalhau. Especula-se que seja uma tradição herdada dos portugueses por ser um peixe típico de Portugal e, devido à salga, ser conservado durante longos períodos de tempo. De toda forma, a escolha de comprar peixe para a Semana Santa ou apenas jejuar traz em sua origem a aproximação do divino, uma vez que a fé é um grande influente nas escolhas alimentares do ser humano, seja ele católico, evangélico, protestante, umbanda, axé ou muçulmano. 

Acredita-se que o consumo de peixe prevaleça por ser uma carne leve para quebrar o jejum, assim como por ser um alimento muito presente na região do Mediterrâneo nas histórias de Cristo. A escolha e o preparo do alimento muitas vezes, mesmo que não seja de todo ligado ao pertencer religioso nessa época, pode partir de um princípio de criação com traços religiosos, onde havia convivência familiar e costume de servir tal alimento. Momentos como esse podem desenvolver de forma boa ou ruim a preferência alimentar de uma pessoa, ligando aqueles momentos ao comer determinado prato. 

Portanto, ao avaliar os processos de comensalidade haverá diversos fatores determinantes para modificar ou não a cultura local e de grupos, sendo interessante para aqueles que não se identificam com algumas crenças como a celebrada esta semana, entender e respeitar os processos que levaram à montagem do prato que está lhe sendo servido naquele momento. Dessa forma, não só há conexão com a espiritualidade como também o fortalecimento dos laços afetivos, uma vez que todas as pessoas irão se juntar para cozinhar ou montar os pratos presentes naquela refeição e ao final do dia poderão apreciar todos os pratos, compartilhando afeto e criando novas boas memórias. 

Comensalidade: forma de se alimentar à mesa, convivência com outras pessoas no ambiente de alimentação.

“Refeição”, de Maria Auxiliadora da Silva, 1970
Material de referência

QUEIROZ, Carlos. VIDA APÓS A MORTE: UM ESTUDO A PARTIR DA MENSAGEM PAULINA EM 1 CORÍNTIOS 15. Universidade Federal de Juiz de Fora, 2014.

ROCHA GARCEZ, Janderson et al. Comercialização e consumo de pescado durante o período religioso da quaresma em um município amazônico, Brasil. RECIMA21 – Revista Científica Multidisciplinar – ISSN 2675-6218, v. 4, n. 2, e422673, 2023.

SARTORI, Alan Giovanini de Oliveira e AMANCIO, Rodrigo Dantas. Pescado: importância nutricional e consumo no Brasil. Segurança alimentar e nutricional, v. 19, n. 2, p. 83-93, 2012.