O termo nutricídio foi criado na década de 90, mas ainda é pouco familiar. Você já o conhecia?
Apesar do recorte de raça/cor de pele que existe por trás do termo, no Brasil também podemos aplicá-lo aos povos indígenas. A atual crise humanitária e de saúde que aflige o povo Yanomami, por exemplo, é a expressão máxima do nutricídio.
Siga o fio abaixo e entenda o seu significado.
Post por Alisson Machado (@alissondmach).
O termo foi criado pelo médico americano Llaila Afrika, autor do livro Nutricídio: a destruição nutricional da raça negra (tradução literal), publicado em 2013 e ainda sem versão em português
O nutricídio se refere à dificuldade ou falta de acesso a alimentos saudáveis e que deveriam fazer parte da cultura alimentar, incluindo as consequências que isso traz à saúde.
O termo é complementado por um recorte de raça – pessoas negras são as mais afetadas devido a uma série de fatores
Um dos pontos levantados pelo autor é a cultura imposta pelos colonizadores dos países africanos, o que afetou, inclusive, a alimentação desses povos, afastando-os de sua cultura alimentar. No Brasil isso não foi diferente!
Dentre essas mudanças podemos citar o amplo uso de farinha, sal e açúcar na alimentação
Outro ponto relevante é o fato de pessoas negras terem um maior acesso a alimentos de baixo valor nutricional, como os ultraprocessados, em detrimento daqueles in natura e minimamente processados, como frutas, legumes e verduras
O racismo estrutural é a grande causa por trás desse cenário.
No Brasil podemos citar dois exemplos:
Pessoas negras, em geral, ainda possuem menor renda e escolaridade, reflexo dos séculos de escravidão. Com menor poder de compra, há a dificuldade na aquisição de alimentos mais saudáveis
Nas periferias das cidades, regiões de desertos e pântanos alimentares, geralmente vivem mais pessoas negras.
- DESERTOS ALIMENTARES: são regiões em que há poucos locais (ou nenhum) para a compra de alimentos saudáveis
- PÂNTANOS ALIMENTARES: são regiões em que há grande oferta de alimentos não saudáveis, como os ultraprocessados
Na cidade de São Paulo, por exemplo, nos distritos em que há desertos alimentares, como Anhanguera e no extremo sul, a porcentagem de moradores negros variou entre 48,8 e 60,1% no Censo Demográfico de 2010
Em Moema, bairro nobre, esse percentual foi de apenas 5,8%
Observe os mapas e veja essa relação:
A alimentação de pior qualidade, por sua vez, tem um impacto direto na saúde.
O consumo elevado de ultraprocessados, por exemplo, tem sido associado à obesidade e diversas doenças crônicas, como hipertensão, diabetes e câncer, impactando diretamente a qualidade de vida e o número de anos vividos – daí o termo nutricídio!