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O brasileiro está comendo menos carne – e porque não temos o que comemorar​

Sim, esta é a página do Sustentarea! E você não leu o título errado.

Clique para ouvir esse post na voz de Alisson

Em um primeiro momento essa chamada pode soar estranha, mas você vai entender o motivo de não comemorarmos a diminuição do consumo de carne pelos brasileiros.

Sabemos que a criação massiva de gado causa grande impacto ambiental. São emitidos cerca de 44 kg de CO2 para a produção de 1 kg de carne bovina, por exemplo. Logo, por que não considerar a redução de seu consumo como algo positivo?

A diminuição da ingestão de carne está associada à redução do poder de compra do brasileiro e, em última instância, à insegurança alimentar.

A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2017-2018 já apresentava esse panorama. A população em segurança alimentar teve uma aquisição anual de cerca de 23 kg de carne por pessoa, enquanto aqueles em insegurança alimentar grave obtiveram quase 9 kg a menos.

Esse cenário, já alarmante, foi intensificado pela pandemia de COVID-19. Houve uma escalada sem precedentes na prevalência de insegurança alimentar no país – atualmente são 33,5 milhões de brasileiros em situação de fome, de acordo com os dados do II VIGISAN. Esta pesquisa também mostrou que dentre aqueles em insegurança alimentar moderada ou grave, quase 40% relataram ter reduzido o consumo de carne, e 70,4% sequer chegaram a comprar esse alimento nos três meses anteriores à pesquisa.

E sob o ponto de vista ambiental? Essa redução trouxe algum benefício?

Não! Em julho de 2022, de acordo com dados da Comex Stat, plataforma do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, o Brasil exportou mais de 2,21 bilhões de dólares em carnes e seus subprodutos, até então o maior valor para este ano – Janeiro foi o menor valor, com $ 1,49 bilhões. Em dezembro de 2018, por exemplo, período em que a ingestão de carne já havia sido reduzida, a exportação de carnes e subprodutos foi de $ 1,18 bilhões. Ou seja, houve um aumento considerável da exportação de carne, o que sugere que a sua produção também foi aumentada, apesar de a população consumir menos desse alimento atualmente.

Dados mais antigos, da plataforma Trase, revelam que de 2015 a 2017 houve um aumento na produção de carne de mais de 108 mil toneladas. A POF que foi iniciada em 2017 já havia mostrado redução do consumo de carne, o que demonstra que mesmo naquela época esse aumento da produção não foi acompanhado do aumento do consumo pela população.

Esses dados indicam que a carne não deixou de ser produzida.

Muito pelo contrário. A sua produção tem sido aumentada e o impacto ambiental causado fica no país, mesmo que as pessoas sequer tenham acesso ao alimento. A ingestão de carne vermelha deve sim ser reduzida, mas isso deve partir da consciência de cada cidadão e cidadã. 

Falta de acesso aos alimentos não é - e nem deve ser - motivo de comemoração.

Esse post foi escrito por mim,

Alisson Machado, mentor do Sustentarea

nutricionista, mestre e doutorando em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Nefrologia da Faculdade de Medicina da USP.

Trabalho principalmente com os temas: nutrição, dieta, doença renal crônica, saúde pública e Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

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