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Fome e sustentabilidade: como colocar no mesmo prato?

Clique para ouvir o texto na voz de Ana Garbin

Reflexões a partir dos resultados do II VIGISAN

No primeiro semestre de 2022, foram publicados os resultados do II Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (II VIGISAN), pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN).

Os resultados do inquérito, representativo da população brasileira, com abrangência das 5 macrorregiões e das 27 Unidades da Federação, confirmam o aprofundamento da insegurança alimentar e da fome entre os brasileiros nos últimos anos. 

Os dados coletados entre novembro de 2021 e abril de 2022, a partir do uso da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), em sua versão de oito perguntas, indicam que:

6 a cada 10 brasileiros estão em situação de insegurança alimentar (IA).

mais de 33 milhões em situação de fome, expressa pela Insegurança Alimentar grave.

Diante deste contexto, nós do Sustentarea nos provocamos a pensar:

De que forma e em que medida é possível colocar as temáticas da fome e sustentabilidade no mesmo prato?

Como nos indicam o conjunto dos ​​Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) proposto pela Organização das Nações Unidas (ONU) essas são pautas interconectadas que se relacionam os principais desafios de desenvolvimento enfrentados por pessoas no Brasil e no mundo.

Contudo, é imperativo considerar como questiona acertadamente Anna Peliano, socióloga e referência em políticas de combate à fome e a pobreza no país:

“Quem é que hoje tem autonomia sobre o que escolhe e o que consome?”.

Uma análise mais fina dos resultados do II VIGISAN revelam que a fome tem, entre outras características, endereço, cor e sexo.

ainda que o maior contingente absoluto de famintos se encontre na região Sudeste, totalizando 14 milhões de brasileiros.

Percentualmente, a situação dos habitantes em área rural é mais grave, ao mesmo tempo que é nas cidades onde se localiza o maior número de pessoas em situação de fome, são 27 milhões de brasileiros.

As mulheres e os pretos/pardos são os mais impactados pela Insegurança Alimentar e fome.

Um item do cardápio bastante discutido quando o assunto é alimentação sustentável são as carnes, dado o impacto ambiental de sua produção, e considerando que é um dos itens mais caros do prato do brasileiro.

Os resultados do II VIGISAN apresentam as modificações relatadas na compra de alimentos, examinando que:

  • entre as famílias que deixaram de comprar carne nos três meses anteriores à pesquisa, 70% dessas encontram-se em situação de insegurança alimentar moderada ou grave.
  • Por outro lado, foi observado que o consumo de carne aumentou em parte da população, mesmo que em algum grau  de insegurança alimentar, mostrando que apesar de ser um alimento caro, é também cultural e hábito do brasileiro.

Enfim, para nós, os resultados do II VIGISAN mais do que respostas, nos mobilizam como um ponto de partida.

Neste ponto, concordamos com o entendimento da rede PENSSAN, compartilhado durante a apresentação dos dados durante o V Encontro Nacional de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, em junho de 2022, de que

“para a promoção da segurança alimentar e nutricional e do combate à fome, apenas a reativação do crescimento da economia não será suficiente, sem a sua conexão com princípios de igualdade, de resgate do direitos humanos, dentre os quais o de alimentação adequada, da preservação ambiental e de promoção do bem-estar de todos”.

Em nosso entendimento

as lutas por soberania e segurança alimentar

o direito humano à alimentação adequada (DHAA)

os sistemas alimentares saudáveis, sustentáveis e justos

 são indissociáveis, e devem caminhar sempre juntas.

Apesar do grande desafio que estamos enfrentando de prover o direito básico de alimentação em quantidade suficiente à nossa população, não podemos deixar de lutar para oferecer acesso à alimentação de qualidade, que respeite as pessoas e o meio ambiente. 

Esse texto foi inspirado na formação que a equipe do Sustentarea recebeu em Junho de 2022 e foi escrito à 4 mãos por:

Aline Martins de Carvalho, nutricionista, professora da Faculdade de Saúde Pública da USP e coordenadora do Sustentarea. 

Vem estudando sistemas alimentares e relação da alimentação com meio ambiente desde 2011

Jennifer Tanaka é Doutoranda e Mestre em Ciências Sociais pelo CPDA/UFRRJ.

Nutricionista pela FSP/USP.

Mentora Sustentarea.

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