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Não seria muito simbólico termos um dia para saudar a mandioca, raiz genuinamente brasileira?
Diversos povos indígenas da região do baixo Amazônia foram capazes de transformar a partir de técnicas de domesticação, uma raiz nativa, potencialmente venenosa, em alimento básico da sua dieta, que hoje também faz parte da alimentação de brasileiras e brasileiros em todo o território.
Há historiadores que afirmam que sem a mandioca o tempo de desbravamento e ocupação das terras brasileiras teria sido muito maior e mais difícil.
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No livro “Mandioca o pão do Brasil”, o autor Pinto de Aguiar diz:
“A cultura da mandioca fixou o indígena nas áreas geográficas de sua produção, e possibilitou a colonização do Brasil pela adaptação estrangeira a essa alimentação”.
Como aponta, por exemplo, os estudos de Rodrigues (2017) os saberes e as tradições indígena sobre a mandioca, e em especial, a produção de sua farinha, foram fundamentais ao longo da história desta nação que hoje chamamos Brasil.
Em tempos mais recentes, alguns autores chegam a descrevê-la como mais brasileira que a camisa verde e amarela. No recente livro lançado “Manihot Utilissima Pohl”, o arqueólogo Eduardo Góes Neves escreve:
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“É seguro afirmar que, mais que a desgastada camisa amarela, da seleção canarinho, a mandioca seja talvez a maior unanimidade nacional”.
Falar de mandioca é também falar de Brasil. Podemos ir além, e dizer que falar de mandioca é falar sobre:
- história indígena,
- formação do mundo colonial,
- história da alimentação,
- religiosidade,
- ancestralidade,
- estudos agrários,
- comércio em escalas local e mundial,
- cultura,
- biodiversidade,
- sustentabilidade e tantas outras coisas.
Dada tamanha importância deste alimento nativo, não é à toa que existe um projeto de lei que quer instaurar o dia 22 de abril como o dia nacional da mandioca. A escolha por comemorar seu dia no mesmo dia que se celebra a chegada dos portugueses no território que hoje chamamos Brasil tem como objetivo ampliar sua visibilidade e mostrar ao país e ao mundo a sua importância.
Importância tal que em 1823 quando foi escrito o projeto da primeira Constituição do Brasil ela tenha ficado conhecida como a Constituição da Mandioca. Porque estabelecia que somente brasileiros com renda anual similar a 150 alqueires* de mandioca poderiam votar.
*Alqueire: é uma medida agrária utilizada para sólidos, como capacidade de armazenamento de cereais, ou para superfícies, como para medir a extensão de uma fazenda.
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- Mandioca,
- macaxeira,
- aipim,
- maniva,
- uaipi,
- castelinha
- …
na vastidão de um país continental onde muitos desenhos socioculturais coexistem não é de se estranhar tantos nomes diferentes para uma mesma espécie!
Como ela é conhecida aí onde você mora?
Na busca por reencontrar e compreender o Brasil pela comida, desde de 2020 o Núcleo de Apoio às Atividades de Cultura e Extensão Sustentarea da USP tem um grupo dedicado aos estudos e ao desenvolvimento de atividades tendo a mandioca como ponto central.
Em 2022, tais atividades estão sob organização do grupo “Alimentação Brasileira”. Percebemos que assim como a mandioca existem outros alimentos que constituem a estrutura alimentar do país, e que por diversas vertentes se encontram e se relacionam com nossa história e modo de vida. Por hora continuaremos a estudar, pesquisar e compartilhar informações sobre a mandioca, o alimento genuinamente brasileiro.
Confira aqui alguns materiais que já temos organizados sobre a mandioca:
Manifesto pelo Reencontro do Brasil com a Mandioca
Venha conhecer o porquê escolhemos estudar a raiz rainha do Brasil
O texto na íntegra está disponível no material Memórias da Mandioca.
Roda de conversa
“Mulheres, Mandioca e Memórias”
Evento realizado em setembro de 2021, no lançamento do livro, com participação das coordenadoras do Sustentarea Aline Carvalho e Dirce Marchioni; e as convidadas Mariana Martins, Thaiza Pedroso, Eulalia Oliveira e Rita Taraborelli.
Em 2022, serão diversas as atividades e materiais para quem, como nós, o olho brilha quando o assunto é mandioca!
É com imensa alegria que compartilhamos com vocês, que um dos projetos que está para sair do forno é a: Biblioteca Mandioca.
Estamos organizando uma coletânea com obras que são referências quando se trata de falar sobre mandioca e seus derivados. A lista ficará disponível no site do Sustentarea para que pessoas que desejam pesquisar e estudar a mandioca tenham um ponto de partida para começar.
Agora, você deve estar se perguntando como pode ajudar nesse movimento, não é mesmo?
Se você conhece alguma dica de livro que tem a mandioca como tema central, compartilhe com a gente através das nossas redes sociais ou por meio deste link.
Ele vai te direcionar para o formulário de inscrição da nossa Newsletter, que será um dos nossos canais de comunicação.
Através da nossa newsletter, a “Cartinha da Rainha”, contaremos sobre nossas descobertas, pesquisas e vivências com a mandioca.
Esse texto foi escrito com muito carinho por:
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Evelym Landim.
Culinarista que tem se dedicado a pesquisar sobre mandioca, suas múltiplas formas de beneficiamento para fins culinários e relação com a história do Brasil. Deseja que como brasileiros reencontremos a mandioca como base dos nossos hábitos alimentares. Membra do sustentarea desde 2021.
Evelym teve a colaboração das membras do Grupo Alimentação Brasileira:
Jennifer Tanaka e Alice Medeiros
e da membra do Grupo Mídias e Site: Ana Garbin
Referências
- AGUIAR, Pinto de. Mandioca: pão do Brasil. Rio de Janeiro: Civ. Brasileira, 1982.
- ATALA, Alex. Mandioca: Manihot utilissima Pohl. São Paulo: Alaúde, 2021.
- BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei nº 5.433, de 23 de abril de 2013. Institui o Dia Nacional da Mandioca. Brasília: Câmara dos Deputados, 2013. Acesso em: 20 abr. 2022.
- RODRIGUES, Jaime. “De farinha, bendito seja Deus, estamos por agora muito bem”: uma história da mandioca em perspectiva atlântica. Revista Brasileira de História, v. 37, n. 75, p. 69-95, 2017.
[…] você pode ver com detalhes nesse post que fizemos aqui no Blog, essa raiz tem uma representação cultural significativa no nosso […]
Gostaria de parabenizar pelo trabalho com a Mandioca, pois sim tem se convertido num dos emblemas do povo brasileiro, amo. Encontro me aqui como Bióloga Doutoranda com a disposição de contribuir