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Parte da história da FSP-USP e o mais antigo do país, curso de Nutrição reflete as mudanças da sociedade

Em 1939, 21 anos após a fundação da Faculdade de Saúde Pública — à época chamada Escola de Saúde Pública — começou a funcionar o Centro de Estudos sobre alimentação. Era o primeiro curso de Nutrição do país, com duração de um ano.

A criação de uma formação em nutrição no Brasil se deu graças à necessidade de melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores. Por isso, passou-se a investir em pesquisa para assegurar ao setor trabalhista alimentação adequada. Nesse período, Geraldo Horácio de Paula Souza requisitou ao governo federal a criação de um Centro de Estudos sobre Alimentação.

Atendendo ao pedido de Paula Souza, o Centro foi criado em 06 de janeiro de 1939. Meses depois, o Interventor Federal no Estado de São Paulo, Ademar Pereira de Barros, decretou a criação de um curso destinado à formação de nutricionistas. A formação só se tornou uma graduação a nível universitário em 1964.

Ao longo dos anos, com as mudanças do perfil populacional, o curso de Nutrição também tem se transformado. “Quando eu entrei aqui, o foco era muito em desnutrição proteico-calórica. As pessoas eram muito mais magras. Hoje em dia focamos mais em obesidade e doenças crônicas relacionadas a elas”, conta a Profa. Elizabeth Torres, docente desde 1991 pelo Departamento de Nutrição na FSP-USP.

Elizabeth também chama a atenção para a necessidade de mais interdisciplinaridade entre os formadores da área. “Hoje este curso demanda biólogos, bioquímicos, farmacêuticos e agrônomos”, afirma. Para ela, que é Engenheira Agrônoma com mestrado, doutorado e pós-doutorado em Ciência de Alimentos, a inserção de engenheiros agronômicos pode enriquecer os cursos de nutrição: “Esse profissional estuda desde o momento em que a semente cai na terra até quando a comida chega ao garfo. Temos muito a oferecer à nutrição em conhecimento e técnica”, diz.

Já a professora Aline Martins, responsável pelo Sustentarea, acrescenta que a sustentabilidade foi outro ponto em que a Nutrição se atentou nos últimos anos. “Não se trata mais apenas de quanto comemos, mas de onde vem essa comida, quais recursos são explorados. Sem o planeta, não há alimento”, alerta.

O Sustentarea é um  Núcleo de Pesquisa e Extensão com foco em sistemas alimentares e alimentação sustentável. Um dos projetos foi aplicado no bandejão da FSP-USP. O “Segunda sem Carne”, criado a partir da campanha internacional de mesmo nome, visava reduzir o consumo de carne, começando com uma vez na semana — no caso, às segundas-feiras. O projeto evoluiu para a oferta apenas de opção vegetariana, uma vez ao mês. Apesar da curta duração, a ação deu seu recado: “Fizemos uma pesquisa para saber se as pessoas haviam reduzido o consumo de carne depois da campanha e 40% afirmaram que sim. Isso é muita coisa”, comemora.

Aline aponta algumas mudanças do Bacharelado em Nutrição desde que ela entrou na FSP-USP, como aluna, em 2005: “Além do foco da pesquisa, o currículo pedagógico mudou bastante. Antes apenas uma disciplina abordava a sustentabilidade; hoje, são várias”. A interdisciplinaridade curricular é outro ponto forte apontado: “Nossos alunos têm aulas com biólogos, bioquímicos, médicos e jornalistas. Inclusive, em outros institutos. Essa diversificação é muito importante para a visão interdisciplinar desse profissional”, afirma.

Outro grupo de pesquisa muito importante vinculado ao curso de Nutrição da FSP-USP é o Nupens (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde). No Núcleo se encontram seis dos oito cientistas brasileiros mais influentes do mundo. Dentre as contribuições do Nupens está a Nova, sistema de classificação que categoriza os alimentos de acordo com o grau de processamento industrial, indo além da análise de nutrientes e considerando o impacto do processamento na saúde. As categorias da Nova são: alimentos In Natura, ingredientes culinários processados, alimentos processados e alimentos ultraprocessados.

A edição mais recente do Guia Alimentar para a População Brasileira, de 2014, foi feita em em parceria com o Nupens e com o apoio da Organização Pan Americana da Saúde (Opas/Brasil). O documento orienta a estruturação políticas públicas e programas de nutrição e saúde no Brasil desde então.

 

Foto da home: Acervo Centro de Memória da Faculdade de Saúde Pública da USP