O consumo de alimentos ultraprocessados está associado a um risco aumentado de pelo menos 32 agravos à saúde humana, incluindo câncer, doenças cardíacas e pulmonares graves, questões de saúde mental e morte precoce. É o que indica um estudo publicado na  revista científica The BMJ, com participação de pesquisadores da 

A mesma publicação traz o editorial “Razões para evitar ultraprocessados”, assinado por Carlos Monteiro, coordenador honorário do NUPENS/USP, Eurídice Martínez-Steele e Geoffrey Cannon, também pesquisadores do núcleo. O NUPENS é o grupo de pesquisa responsável por cunhar o termo “ultraprocessados” no  Brasil e no mundo. 

A pesquisa é o que os cientistas chamam de “revisão guarda-chuva”, e analisou a qualidade das evidências publicadas nos últimos anos sobre as associações entre dietas ricas em ultraprocessados  e problemas de saúde. 

Alimentos ultraprocessados – como biscoitos e salgadinhos, refrigerantes, embutidos, e produtos prontos para consumo – passam por múltiplos processos industriais, e contêm corantes, emulsificantes, aromatizantes e outros aditivos. Esses produtos também tendem a ser ricos em açúcar, gordura saturada e/ou sal adicionados, mas são pobres em vitaminas e fibras.

Podem representar até 58% do consumo diário total de energia em alguns países de alta renda, e tem aumentado rapidamente em muitos países de baixa e média renda, nas últimas décadas , por exemplo no Brasil. 

Resultados

Os resultados demonstram que há evidências convincentes de que a ingestão de alimentos ultraprocessados ​​está associada a um risco aumentado de cerca de 50% de morte relacionada a doenças cardiovasculares, transtornos mentais comuns,  e um risco 12% maior de diabetes tipo 2.

Evidências altamente sugestivas também indicaram que o alto consumo de ultraprocessados ​​está associado a um risco 20% maior de morte por qualquer causa; um risco aumentado de 40-60% de morte relacionada a doenças cardíacas, obesidade, diabetes tipo 2 e problemas de sono, e um risco aumentado de 20% de depressão.

As evidências sobre a associação entre consumo de ultraprocessados ​​e asma, saúde gastrointestinal, alguns tipos de câncer e fatores de risco cardiometabólicos – como níveis elevados de gordura no sangue e baixos níveis de colesterol “bom” – permanecem limitadas.

A conclusão é que os produtos podem ser prejudiciais para muitos sistemas do organismo, e é urgente promover medidas para reduzir o acesso a esses produtos, além de investimento em pesquisas para compreender melhor a associação entre os produtos e os problemas de saúde. 

“Estas descobertas devem incentivar mais pesquisas e ações de saúde pública urgentes, a fim de minimizar o consumo de ultraprocessados ​​e melhorar a saúde da população”, afirmam os pesquisadores.

“Ultraprocessados encurtam a vida” : pesquisadores do NUPENS assinam editorial

Se “alimentos ultraprocessados ​​prejudicam a saúde e encurtam a vida”, o que pode ser feito para controlar e reduzir a sua produção e consumo, em crescente em todo o mundo?  No editorial assinado por Carlos Monteiro,  Eurídice Martínez-Steele e Geoffrey Cannon, os pesquisadores salientam que o lucro gerado com os ultraprocessados desencoraja os fabricantes a investirem na produção de alimentos nutritivos.

Por isso, defendem que é essencial a construção de políticas públicas como a rotulagem adequada (no Brasil, há uma nova rotulagem vigente desde 2023), restrição de publicidade e proibição de vendas de ultraprocessados dentro de escolas (como acontece na cidade do Rio de Janeiro) e hospitais, além de medidas fiscais para facilitar o acesso e o consumo de alimentos in natura ou minimamente processados – como a tributação de ultraprocessados na Reforma Tributária, por exemplo. 

“Chegou a hora das agências das Nações Unidas, em conjunto com os Estados-membros, desenvolverem e implementarem uma convenção-quadro sobre alimentos ultraprocessados, semelhante ao quadro sobre o tabaco, e promoverem exemplos de melhores práticas”, escrevem.

Finalmente, afirmam que investigações multidisciplinares “são necessárias para identificar as formas mais eficazes de controlar e reduzir os ultraprocessados, e para quantificar e acompanhar os custos-benefícios e outros efeitos de todas essas políticas e ações na saúde e no bem-estar humano, na sociedade, na cultura, geração de empregos e no meio ambiente.”