“Há muitas semelhanças entre ultraprocessados e tabaco: ambos causam diversas doenças graves e morte prematura; são formulações atraentes e viciantes, produzidas por empresas transnacionais que investem parte do seu lucro com estratégias agressivas de marketing e lobby contra a regulamentação; e são prejudiciais à saúde por sua natureza, então a reformulação não é uma solução”, afirmou Carlos Monteiro, fundador do Nupens/USP, na conferência de abertura do Congresso Internacional de Obesidade (ICO), em 26 de junho.

O pesquisador defendeu que os esforços para reduzir a oferta e consumo de ultraprocessados – em nível global – devem, portanto, ser inspirados nas leis antitabagistas.“A publicidade de ultraprocessados também deve ser proibida ou fortemente restringida, e é necessário inserir avisos na parte frontal das embalagens, semelhantes aos usados nos maços de cigarro.”

Monteiro também acredita que é preciso proibir a comercialização dos produtos em escolas  e unidades de saúde, e que é preciso tributar ultraprocessados, revertendo a verba para o subsídio da produção e distribuição de alimentos frescos.

O The Guardian, jornal britâncio, repercutiu a participação do epidemiologista no evento, na matéria Ultra-processed foods need tobacco-style warnings, says scientist (“Cientista afirma que alimentos ultraprocessados precisam de advertências semelhantes ao tabaco”, em português). Leia na íntegra. 

Grande encontro 

Carlos Monteiro dividiu o palco com Kevin Hall, pesquisador do National Institutes of Health (NIH) – Estados Unidos. Enquanto Monteiro liderou a criação da classificação Nova, Hall é o responsável pelo ensaio controlado randomizado com ultraprocessados, que demonstrou que dietas compostas quase inteiramente por alimentos ultraprocessados induzem as pessoas a comerem mais e a ganharem peso.

Ao ser perguntado sobre o impacto da Nova em seu trabalho, Hall contou que, quando foi apresentado ao sistema de classificação de alimentos, estava “muito envolvido no mundo dos nutrientes”, não entendeu exatamente o que era, mas soube que poderia usar em suas pesquisas. “Entendi que poderia usar a Nova para estudar e projetar um estudo, testar hipóteses, sabia que havia uma oportunidade de aprender algo novo”, disse. 

Prêmio Phillip James

Na ocasião, a World Obesity Federation concedeu o prêmio Phillip James a Carlos Monteiro, o segundo cientista do mundo a receber a homenagem. “Tive a oportunidade de conviver brevemente com o médico que dá o nome a essa homenagem, ainda antes da criação da World Obesity Federation, e posso afirmar que era um defensor incansável de políticas públicas de saúde baseadas em evidências”, afirmou Monteiro. Quem entregou a honraria foi Walmir Coutinho, presidente do ICO 2024.