No mês que comemoramos o dia da Mulher Negra, Latino e Caribenha, nós do Cpas-1 gostaríamos de lembrar e homenagear algumas mulheres brilhantes que construíram outras possibilidades de fim do mundo.
Stela do Patrocínio, mulher negra, nascida no estado do Rio de Janeiro no dia 9 de janeiro de 1941.
Uma artista vítima de um cruel projeto de apagamento; sua trajetória tornou-se irrastreável, e sua arte, inacessível, sofreu as violências de uma internação no manicômio Juliano Moreira.
“Eu sou Stella do Patrocínio Bem patrocinada.
Estou sentada numa cadeira
Pegada numa mesa nêga preta e criola
E eu sou uma nêga preta e criola
Que a Ana me disse.”
Stella passou a ser compreendida enquanto artista em potencial quando começou a fazer parte do projeto de Livre Criação Artística do. As coisas que falava e o modo como as falava eram envoltas por um tom poético, chamando a atenção dos professores de arte, principalmente de Carla Guagliardi, que começou a gravar em fitas cassetes algumas das conversas que tinha com Stella.
“eu já fui operada várias vezes
fiz várias operações
sou toda operada
operei o cérebro, principalmente
eu pensei que ia acusar
se eu tenho alguma coisa no cérebro
não, acusou que eu tenho cérebro
um aparelho que pensa bem pensado
que pensa positivo
e que é ligado a outro que não pensa
que não é capaz de pensar nada e nem trabalhar”
Em razão de uma parada cardiorrespiratória Stella faleceu em 1992. 10 anos depois seu livro “Reino dos bichos e dos animais é o meu nome” é publicado, uma reunião de suas falas ao longo dos anos, organizadas por Viviane Mosé em forma de poesia. A obra obteve tanto sucesso que, em 2002, foi finalista do Prêmio Jabuti e inspirou outras manifestações artísticas.
“Eu sou muito medrosa
Cínica
Covarde
Sonsa
Injusta
Eu não sei fazer justiça
Não sei como faz justiça
Eu não sei fazer
Eu não sei fazer justiça
Não sei como faz justiça”
Linn da quebrada
É possível encontrar no youtube o documentário “Stela do patrocínio, a mulher que falava coisas” , dirigido por Márcio de Andrade. E em 2021, foi homenageada por Linn da quebrada na canção “ Medrosa – ode à Stela do Patrocínio”.