CPaS-1 – Coletive de Pesquisa em Antropologia, Arte e Saúde Pública

Aula magna: ensaios sobre o cuidado no fim do mundo

Em meio a terrível pandemia que nos engloba, pessoas sistematizam meios de amparo aos idosos (principal grupo de risco) a fim de evitar a exposição e locomoção de tais pessoas. Destarte, emergem fortes formas e redes de vinculação entre a população, respondendo não apenas à pandemia, mas aos perigos do isolamento e do maior distanciamento social. Texto de Danielle Ichikura Oliveira.

Imagem disponível em <idoso | Agência Brasil (ebc.com.br)> . Acesso em 29/11/2021

Após a divulgação de dados sobre a população em situação maior vulnerabilidade relacionado a infecção pelo Covid-19 o panorama foi o seguinte: idosos foram apontados como principal grupo de risco com dados de mortalidade mais alta do que a população em geral,seguidos de pessoas imunodeprimidas. Diante desse cenário a reflexão que foi posta orbitava sobre como evitar a exposição desse recorte da população ao vírus,pensando em mobilidades cotidianas,necessidades básicas de subsistência.

A partir da recomendação de isolamento voluntário, a criatividade coletiva ganhou espaço, transbordando a metragem dos apartamentos paulistanos. Um exemplo está acontecendo na Vila Buarque – região central de São Paulo onde nasceram movimentos autônomos e orgânicos com objetivo de disponibilizar apoio logístico para a população de risco, visando evitar que se exponham ao contágio e venham a adoecer.Com o apoio da articulação disponível via mídias sociais (Instagram) moradores do bairro disponibilizaram material para impressão com dados como nome do morador,apartamento e telefone. O intuito é circular este material em elevadores e áreas comuns de condomínios para pedidos de apoio em compras de supermercado,por exemplo. Outra ação deste coletivo é a possibilidade dos moradores se colocarem à disposição no próprio post da rede social, sendo localizados através das hashtags referenciadas. De acordo com dados fornecidos por uma das administradoras da página do bairro, somando as duas postagens com a proposta obtiveram um total de 5.947 pessoas alcançadas. A faixa etária do público que acessou foi maior entre 25 e 34 anos e em relação a gênero 62% foram mulheres. Interessante observar que a faixa de idade atingida pela postagem engloba o recorte considerado de baixo risco para desenvolver a doença de forma mais grave, possibilitando a entrada desse público na mobilização solidária.

Ainda não foi possível dimensionar os efeitos desses movimentos, quantas pessoas vão recorrer a ajuda? Quantos casos serão evitados com esse movimento micropolítico? Existe mesmo amor em SP? Seguimos experimentando rompantes de solidariedade e pequenos exercícios do que parece ser um ensaio de despertar de vivência em comunidade. Anotando em versos simples os grandes ensinamentos desta aula magna global de antropologia social viral.

Publicado originalmente dia 19/03/2020.

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