CPaS-1 – Coletive de Pesquisa em Antropologia, Arte e Saúde Pública

Coronavírus e o Banco de Sangue

O novo vírus causou uma grande escassez nos bancos de sangue, retardando ainda mais as possíveis cirurgias, sendo necessário, então, criar uma fila de prioridade para tal procedimento. Profissionais da área da Saúde se preocupam: a maioria deles não recebeu nenhum respaldo, tendo assim mais exposição e probabilidade de adquirir o vírus. Texto de Michel Furquim.

Imagem disponível em <Coronavirus updates, May 17: Latest news on the COVID-19 pandemic from Pakistan and around the world (geo.tv)> .
Acesso em 29/11/2021

Devido aos diversos casos do vírus covid-19 (coronavírus) no estado de São Paulo, as doações de sangue caíram drasticamente no banco de sangue do Hospital das Clínicas, gerenciado pela Fundação Pró-Sangue. A queda no número de doadores impactou diretamente no estoque da fundação, responsável por fornecer hemocomponentes para todos os hospitais com complexo hospitalar (o maior da América Latina), além de outros hospitais da cidade de São Paulo, como o Hospital Brigadeiro (Hospital de Transplantes do Estado de SP – Euryclides de J. Zerbini), o Centro de Referência e Treinamento do HIV/AIDS (CRT), Conjunto Hospitalar Mandaqui, entre outros.

Conforme informado pela própria Pró-Sangue[1], o estoque está operando com 40% de sua capacidade, sendo que as hemácias de tipo O+ está 75% abaixo do necessário e o O- está 70%. A falta de hemoderivados impacta diretamente na realização de cirurgias eletivas e de emergências, tornando os procedimentos inviáveis, especialmente naqueles que necessitam de componentes sanguíneos para que ocorram, como cirurgias cardíacas.

Por este motivo, as equipes de enfermagem e médicas dos hospitais estão neste momento reduzindo o número de cirurgias, priorizando as de emergência e as de urgência. No Instituto do Coração, por exemplo, – onde é grande o número de cirurgias cardíacas e que sua maioria necessita da utilização de concentrados de hemácias, concentrados de plaquetas e outros hemoderivados – já existe o movimento de reduzir as cirurgias programadas e priorizar as emergenciais, devido a falta de bolsas de hemácias. O hospital realiza diariamente em torno de 20 cirurgias por dia, anualmente uma média de 5 mil cirurgias por ano.

Muitas(os) funcionárias(os) demonstram apreensão devido à incerteza sobre as medidas de prevenção que serão tomadas para a prevenção do contágio do Covid-19. O governo do Estado de São Paulo anunciou o cancelamento de férias dos funcionários da área da saúde, não definiu um plano de contingência para os hospitais com complexo e não informaram compra de equipamentos de proteção suficiente, o que produz uma tensão sobre o cuidado destes corpos que trabalham para cuidar dos outros.

Trabalhadores da área da limpeza, de empresas terceirizadas, também demonstram preocupação, em relação a epidemia, uma vez que não foram oferecidos equipamentos e produtos de proteção, como máscara e álcool gel, assim como não foi determinado nenhuma escala em plano de contingência. Muitas(os) das(os) funcionárias(os) que trabalham nesta área são mulheres, que moram na periferia da cidade ou em outros municípios ao redor de São Paulo, o que exige um maior deslocamento da residência até o trabalho.

  • [1] Site Catraca Livre, em 17/03/2020.
  • Texto publicado originalmente em 19/03/2020.

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