CPaS-1 – Coletive de Pesquisa em Antropologia, Arte e Saúde Pública

Cosmopolíticas do cuidado

Cosmopolíticas do cuidado no fim-do-mundo: gênero, fronteiras e agenciamentos pluriepistemológicos com a Saúde Pública

Fugir para sonhar; inserir-se para modificar
Conceição Evaristo

Coordenação

Pesquisador Responsável: José Miguel Nieto Olivar (FSP/USP).
Apoio Técnico: Joanna Manzano Strabeli Ricci(mestranda, FSP/USP, Bolsista Fapesp TT3)

Projeto na página da FAPESP

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1. O que é o projeto Cosmopolíticas…?

Há pessoas, redes, mundos, para os quais o Mundo (especialmente o da Modernidade, e incluindo aí as Políticas Públicas, a Ciência, a Saúde, a Segurança) é essencialmente uma Ameaça. Nessa relação do Mundo-enquanto-Ameaça, estas pessoas, redes e mundos lutam, resistem, persistem, florescem, gozam, proliferam. Quiçá hoje mais do que nunca (para ambos lados da equação). Como estas pessoas dispõem, espalham, espelham, experienciam práticas e relações de Cuidado com, contra, através, apesar do Mundo, suas Instituições e Saberes? Como estas redes e pessoas fazem e refazem mundos-para-elas para atravessar a Ameaça e solicitar a experiência social, a experiência política, a experiência sexual, sanitária, econômica, mundana, como um embate, como uma disputa potencialmente simetrizante? O que fazem os agentes e operadores do Mundo com essa disputa? E, finalmente, como estes agenciamentos de cuidado e luta podem nos ajudar a imaginar e reorganizar o campo da Saúde Coletiva, no Brasil, que se define a si mesmo como democrático e como operador do cuidado? 

Este projeto tem como principal problema teórico, primeiro, compreender as formas através das  quais alteridades sanitárias (aquelus que o campo da saúde costumou imaginar e definir como “outros”) mobilizam práticas e agenciamentos que chamamos, sinteticamente,  de cosmopolíticas do cuidado para enfrentar, resistir, atravessar e persistir no marco de contextos  críticos associados às discussões sobre Fim do Mundo e Antropo/Capitaloceno no Brasil, e, segundo, entender e propor caminhos através dos quais estas cosmopolíticas e conhecimentos pluriepistêmicos encontram-se, tensionam e podem vir a reconstruir o campo da Saúde Pública/Coletiva em perspectiva de  futuro. 

O projeto Cosmopolíticas do cuidado se constitui tendo como chão e foco aquela construção mito-histórica e geopolítica chamada Amazônia. O projeto existe em relação com a Amazônia. Não como uma alteridade distante ou lugar carente, mas como uma aliança de pensamento e de produção de conhecimento. A Amazônia, como uma territorialização da alteridade da Modernidade, deve ser envolvida aqui como um agenciamento de conhecimentos sobre ameaça, saúde e cuidado. Localizadamente, e em função de trajetórias de pesquisa anteriores, a Amazônia, neste projeto, é especialmente as cidades fronteiriças de Tabatinga e de São Gabriel da Cachoeira (AM), com seus complexos transfronteiriços de referências, em triangulação com Manaus e em conexões (empiricas e analíticas sendo construídas) com São Paulo.

  • “Cosmopolíticas do cuidado no fim-do-mundo” é um projeto de pesquisa e formação. Não é um projeto individual, mas de “nucleação”, de formação de estudantes e pesquisadoras, de redes e de fortalecimento de um centro/rede de pesquisa.
  • Este projeto se pretende trans, pluriepistemológico e hibridizante. Ele acontece no entrecruzamento entre artes, antropologia e saúde pública/coletiva, junto com saberes que não são do campo acadêmico, e que aqui temos chamado de “exorbitantes” (que excedem a órbita do Mundo [o Mundo Moderno]).
  • “Cosmopolíticas do cuidado” busca estar implicado na atual turbulência de transformação da saúde coletiva no Brasil. O projeto busca, no final, oferecer insumos concretos que colaborem a repensar, “contra-reformar”, radicalmente, as bases de pensamento e de mundo (“onto-epistemológicas”) da saúde pública/coletiva, levando em consideração também suas pontas e sua formação.
  • O projeto busca conectar-se com perspectivas contra-hegemônicas, contra-coloniais, antirracistas, plurifeministas. Os “insumos concretos” que este projeto pretende construir deverão vir desde as experiências e saberes das pessoas com quem trabalhamos e que, gradualmente, compõem as redes de produção de conhecimentos e de futuros deste projeto. Saberes que a cada vez mais dispensam tradução e, por tanto, que a cada vez mais exigem plurilinguismo e pluriepistemologia…
  • Gênero no centro. Gênero enquanto um dispositivo (trans, puta, preta, indígena) feminista, que faz olhar para e desde e com o que entendemos relacional e situadamente como “mulheres” (cis, trans, etc), “feminilidades”, etc… e seus mundos… É um projeto herdeiro de múltiplos feminismos e suas junções disjuntivas, interseccional e decididamente antirracista e anticolonial, que entende que isso deve modificar radicalmente nossas formas de pensar, de produzir conhecimento e de relacionar-nos.

2. Objetivos (missões)

Zonas de conhecimento pelas quais transitam nossas perguntas, as pesquisas vinculadas e associadas, e as nossas parcerias:

  • Que Mundo é este que se torna uma Ameaça? Umas das missões do projeto é produzir evidências e recursos analíticos sobre o Mundo-enquanto-ameaça (MƒA), fim-do-mundo, contextos críticos, etc… Atentamos a formas mais necro/patopolíticas (baseadas na produção de morte e adoecimento como forma de poder), mais ou menos organizadas e centralizadas, até formas mais parecidas com a biopolítica. O projeto está atento ao contexto político-econômico da Amazônia, no Brasil e além, porque a Amazônia está no centro da política brasileira e das discussões sobre crises planetárias.
  • E a Saúde Coletiva? E o(s) SUS(es)? Outra missão é entender como esses arranjos de cuidado questionam, interpelam, impactam, fortalecem, “criticam” e multiplicam o SUS, a Saúde Coletiva (e as possibilidades da prática antropológica). O que emerge da pesquisa feita junto com as redes desse projeto que pode ser ensinado a futures sanitaristas e outres trabalhadorus da saúde pública? Como transformar isso em objetos reconhecíveis e apreensíveis, manuseáveis, pelo campo da saúde coletiva nos seus processos, por exemplo, de formação?
  • Como estas discussões sobre cuidado e sobre cosmopolítica afetam as formas em que produzimos conhecimento? Reconhecemos a importância dos métodos modernos desenvolvidos pelas nossas disciplinas; contudo, entendemos que, em relação com os chamados cosmopolíticos, de cuidado, anticoloniais, pluriepistemológicos, e com a realidade do campo acadêmico brasileiro contemporâneo, não são mais suficientes. Recorremos na formulação desta pesquisa a genéricos “Encontros de Saberes” e “Oficinas de composição de futuros”… “Pluriepistemologias-com”, “investigación-acción participativa”, “etnografias colaborativa”, “escrita+ em processos de pluralidade epistêmica”. Mas como se faz isso? Como se propõe? Que imaginamos destes encontros? Faremos um cestinho com estas experiências.
  • Como fazer parte? Outra missão é se conectar, alimentar, transferir, apoiar, ajudar… tentar fazer parte. Aprender a montar-se, a transar, a trançar, tramar, atravessar, maquiar, cultivar, receber, respeitar, calar, dar passagem: aprender a ser prótese e aliança.

3. Parcelas, Eixos ou Órbitas

Dizem que este projeto “é uma viagem!” É. Este projeto é como um grande território feito de conexões as mais diversas e de mobilidades intensas entre São Paulo e o Amazonas; é uma grande viagem por lugares, exorbitâncias, mundos, corpoterritórios, histórias e conceitos… E está organizado em Parcelas, eixos ou órbitas que ajudam a territorializar, a situar em corporalidades e em redes, no chão, e a criar problemas diferentes.

Parcela 1: Com e para além da violência: mulheres indígenas, conhecimento e luta desde o Rio Negro

Parcela 2: Contra-fronterizar o Mundo e compor mundos: fronteiras interseccionais, crescimento e gozos pluriversais

Parcela 3: O chão é o movimento da rede: prostituição, política e invenção de novos mundos desde o Brasil – visto do “Norte”

Parcela 4: Quinhapira, calabresa e caxirí: alimentação, meio ambiente e as mulheres do fim-do-mundo

Parcela 5: Mulheres vivendo, tecendo, cortando as malhas do encarceramento

Parcela 6: “Não defender o indefensável”: saberes, experiências e corposterritórios para outras saúdes para outros públicos

Cesto-Plataforma: redes e tramas para a produção de conhecimentos plurais para a saúde

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